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B my guest!
sábado, março 27, 2004
  Sunset is one of my favourite times. Our shadows make us look like giants. There’s a stillness all around as if the whole world was holding its breath waiting for the sun to go. 
sexta-feira, março 26, 2004
  A KITE IS A VICTIM

A kite is a victim you are sure of.
You love it because it pulls
gentle enough to call you master,
strong enough to call you fool;
because it lives
like a desperate trained falcon
in the high sweet air,
and you can always haul it down
to tame it in your drawer.

A kite is a fish you have already caught
in a pool where no fish come,
so you play him carefully and long,
and hope he won't give up,
or the wind die down.

A kite is the last poem you've written,
so you give it to the wind,
but you don't let it go
until someone finds you
something else to do.

A kite is a contract of glory
that must be made with the sun,
so you make friends with the field
the river and the wind,
then you pray the whole cold night before,
under the travelling cordless moon,
to make you worthy and lyric and pure.

Cohen, Leonard, Filhos da Neve, Antologia Poética, Lisboa, Assírio & Alvim, 2ªedição, 1997.

  THIS IS FOR YOU

This is for you
it is my full heart
it is the book i meant to read you
when we were old
(...)

Cohen, Leonard, Filhos da Neve, Antologia Poética, Lisboa, Assírio & Alvim, 2ª edição, 1997. 
terça-feira, março 16, 2004
  Carta para a Leonor no dia em que faz 22 anos

"(...)
A maldade turva o olhar, não o dos outros, mas o nosso. Não é preciso ter em conta as consequências, é no próprio fazer que a culpa se mede. Olha para os teus olhos antes de olhares para os dos outros. O que os teus olhos vêem vem da luz que tens dentro de ti.(...) E o amor precisa de mais cuidados do que um jardim. Todos os dias é preciso regar o nosso amor. E podar os ramos mortos. Trabalhemos pois, Leonor, que o amor requer trabalho e o trabalho precisa de amor.
(...)
E quando o corpo cansa e a alma entristece não faças caso. De vez em quando o mundo também precisa de descansar. Admira as árvores e as nuvens e a sua indiferença por ti. Não queiras ser o centro de nada. À tua volta descobre o que não és. A frivolidade gasta a alma numa inútil correria. Sê humilde e sensata. Se for preciso torna-te pesada como uma pedra que, embora pisada, não se levanta contra ninguém. E se for preciso sê como o chicote que corta, doce e alegre Leonor."

Paixão, Pedro, Vida de Adulto, Lisboa, Livros Cotovia, 6ª edição, 1998, págs. 53-54. 
domingo, março 14, 2004
  Os dias em que estes dias, faz já tantos tantos dias, foram os meus e os teus dias que juntos dia-a-dia fizeram, um dia, os dias chegar aqui.

Os dias

Os dias dos meus dias
em que não te vi
foram menos dias que os teus
e senti
que os dias dos teus dias
não eram meus,
não eram nossos os dias
como os dias dos meus dias
em que por dias te procurei
e, quando te achei, já
os teus dias, mentias
eram teus, e os meus
apenas meus
dias sem ti.
Dias de dias?
Apenas dias...

José Manuel Santos (16.05.92)

*

Malmequeres

Malmequeres tu me deste
sem que nada eu te pedisse
Malmequeres eu recebi
e tu nada me disseste
Malmequeres em meu coração
floresceram sem que eu o quisesse
Malmequeres tu colheste
e eu já não sei outra flor!
Mas malmequeres morrem cedo
meu coração o sentiu
Meus malmequeres tu colheste
tu, a quem ninguém o pediu.

José Manuel Santos (9.05.91)

*

Deitada à beira do sol

Deitada à beira do sol
a vidou rolou de costas
estendeu a mão em flor
e sentiu o riacho correr
molhou lá os dedos
verdes, amarelos, de cores
sentiu os mil sabores
que da terra vêm na água
e adormeceu quente e lerda
cansada de tanto viver
e dali não quis saber
o que n'outro lado se passava
Mas tinha de ser, coitada
E subiu alto no caminho
é que o Sol não vai sozinho
tem com quem muito falar
Mas a vida às vezes cansa
e desce, suavezinho,
pára em lugar sem nome
onde nada a alcança
e nada há para dar
Acama homens, mundos
e sente-se a adormecer
Mas o Sol não a deixa esquecer
queimando os dias da vida
que seca se levanta
sacode os seres em trança
e faz a Terra girar
salta p'ró Sol ensonada
desperta com a luz guiada
que a obriga a trabalhar
Mas longo vem a bonança:
o Sol desvia o olhar
e a vida foge louca
corre com vento à popa
vira mundo para achar
um rio, flores, água,
céus quentes, prados,
lugar para descansar.

E tudo corre lento,
despreocupado, isento

- Não a deixem acordar!

José Manuel Santos (24.05.91) 
  Eu não sei quem te perdeu

Quando veio, mostrou-me as mãos vazias
as mãos como os meus dias
tão leves e banais.
E pediu-me que lhe levasse o medo,
eu disse-lhe um segredo:
"não partas nunca mais".

E dançou,
rodou no chão molhado,
num beijo apertado
de barco contra o cais.

E uma asa voa
a cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
e eu não sei quem te perdeu.

Abraçou-me
Como se abraça o tempo,
A vida num momento
Em gestos nunca iguais.
E parou,
cantou contra o meu peito
num beijo imperfeito
roubado nos umbrais.

E partiu,
sem me dizer o nome,
levando-me o perfume
de tantas noites mais.

E uma asa voa
a cada beijo teu,
esta noite
sou dono do céu
e eu não sei quem te perdeu.

P.A. 
quinta-feira, março 11, 2004
  PEDREIRA

Nada mais que a canção. Como se
apenas o canto
nos tivesse guiado de volta a este lugar.

Estivemos aqui, e nunca estivemos aqui.
Estivemos a caminho de onde principiámos,
e perdemo-nos.

Não há fronteiras
na luz. E a terra
não nos deixa palavra alguma
para cantar. Porque o desabar da terra
debaixo dos pés

é uma música em si, e caminhar
por entre estas pedras
é nada ouvir
para lá de nós mesmos.

Canto, por isso, acerca de nada,

como se nada fosse o lugar
para o qual não regresso -

e se porventura eu regressar,
então ponham nestas pedras
de lado a minha vida: esqueçam
que alguma vez aqui estive. O mundo
que caminha dentro de mim

é um mundo fora de alcance.

Paul Auster, Poemas Escolhidos, Edições Quasi, (trad. Rui Lage). 
  PULSE

This that recedes
will come near to us
on the other side of day.

Autumn: a single leaf
eaten by light: and the green
gaze of green upon us.
Where earth does not stop,
we, too, will become this light,
even as the light
dies
in the shape of a leaf.

Gaping eye
in the hunger of the day.
Where we have not been
we will be. A tree
will take root in us
and rise in the light
of our mouths.

The day will stand before us.
The day will follow us
into the day.

Paul Auster, Selected Poems, Edições Quasi. 
  "You, I thought I knew you.
You I cannot judge.
You, I thought you knew me,"

REM, Night Swimming, Automatic for the People 
terça-feira, março 09, 2004
  Nunca te disse

Nunca te disse, mas no fim da prática, quando as luzes se apagam e o escuro silencioso da sala convida ao recolhimento dos sentidos, quando o corpo deve libertar-se da sua forma física e do peso que o dia lhe acrescentou, quando, sob a orientação da professora, devemos procurar a paz de uma praia idílica, o meu corpo indefinido veste um casaco de malha cinzento e escancha-se, como uma aranha abraçada à sua presa, na ternura quente do teu colo numa noite de luz amarela. Talvez um dia te diga ou talvez nunca te conte. Quem sabe se o amor não é este contentamento secreto de nós no outro. Esta praia idílica no teu corpo onde o meu ganha forma.

  Ó noite inolvidável
Feita abraço
Que nos misturou inteiramente
Até que o dorso da treva se vergou
E na face da idade embranqueceu.
Foi então
Que o manto fino da brisa
Tapou teus ombros, ó noite,
Com a delicadeza do orvalho.

Ibn'Abdun, O Meu Coração é Árabe, Assírio & Alvim, (trad. Adalberto Alves) 
  Nunca evitei o desafio
Na frente de quem seja campeão
Mas hoje quem me lança o repto
É a beleza que mata com requebros,
Beijos doces e abraços,
Com que me dá saudação,
Cadeias
Que me apertam como laços.
Minha vida é dada às armas
E a couraça só a tiro
Com o peito a palpitar
Se a beleza oculta em véus
Eu pressinto em seu arfar.

Ibn Darraj Al-Quastalli (958-1030), O Meu Coração é Árabe, Assírio & Alvim, (trad. Adalberto Alves) 
domingo, março 07, 2004
  Alheio

Longo se faz o dia a quem não ama
e ele sabe-o. E ele ouve esse toque
breve e duro do corpo, sua alquebrada
canção, a soar sempre à lonjura.
Fecha a sua porta e fica bem fechada;
sai e, por um momento, os seus joelhos
deslizam para o solo. Mas a alvorada
com generosidade perigosa
refresca-o e levanta-o. Muito clara
está sua rua, ele vagueia, pés incertos,
e coxeia em seguida porque anda
só com sua fadiga. E diz ar:
palavras mortas com sua boca viva.
Prisioneiro por não querer, abraça
a sua própria solidão. E está seguro,
mais seguro que ninguém porque nada
possuirá; e ele bem sabe que nunca
viverá aqui, na terra. A quem não ama,
como podemos conhecer ou como
perdoar? Dia longo e ainda mais longa
a noite. Mentirá ao tirar a chave.
Entrará. E nunca habitará a sua casa.

Claudio Rodríguez (1934), Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, (trad. José Bento) 
sábado, março 06, 2004
  Pássaros das ilhas...

Pássaros das ilhas: no vosso voo
há uma vontade,
há uma secreta e uma divina ciência,
graça de eternidade.

As vossas evoluções, academia expressiva,
sinais sobre o azul,
levam ao Oriente fantasia, ao Ocidente ânsia viva,
paz ao Norte e ao Sul.

Eis perante os vossos olhos
a glória das rosas e a inocência dos lírios,
eis perante as vossas asas líricas as brisas de Ulisses,
e os ventos de Jasão:

Almas doces e herméticas que ante o eterno problema
sois, em número veloz,
o mesmo que a rocha, o furacão, a gema,
o arco-íris e a voz.

Pássaros das ilhas, oh, pássaros do mar!
vossos voos, sendo
bênção dos meus olhos, são problemas divinos
da minha meditação.

E com as asas puras do meu desejo abertas
para a imensidade,
imito os vossos círculos em busca das portas
da Verdade única.

Rúben Darío, O Mar na Poesia da América Latina (Antologia) (trad. José Agostinho Baptista) 
quinta-feira, março 04, 2004
  História de cão

Eu tinha um velho tormento
eu tinha um sorriso triste
eu tinha um pressentimento

tu tinhas os olhos puros
os teus olhos rasos de água
como dois mundos futuros

entre parada e parada
havia um cão de permeio
no meio ficava a estrada

depois tudo se abarcou
fomos iguais um momento
esse momento parou

ainda existe a extensa praia
e a grande casa amarela
aonde a rua desmaia

estão ainda a noite e o ar
da mesma maneira aquela
com que te viam passar

e os carreiros sem fundo
azul e branca janela
onde pusemos o mundo

o cão atesta esta história
sentado no meio da estrada
mas de nós não há memória

dos lados não ficou nada

Mário Cesariny (1923)
Manual de Prestidigitação 
Entre (ontem e hoje, a realidade e a ficção)

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